Faleceu neste dia 23 de julho, Ariano Suassuna, dramaturgo e poeta, aos 87 anos com honrarias militares, bandeiras da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), do Brasil e de Pernambuco estampadas sob o caixão, foi sepultado no cemitério Morada da Paz, na Grande Recife.
Autor de célebres obras literárias, já em 1947 junto com Hermilo Borba Filho. fundou o Teatro do Estudante de Pernambuco e escreveu sua primeira peça, Uma Mulher Vestida de Sol, que deu início a uma carreira literária premiada. Entre elas em 1955 lançou Auto da Compadecida que o projetou em todo o país. Em 1962, o crítico teatral Sábato Magaldi diria que a peça é "o texto mais popular do moderno teatro brasileiro".Considerada sua obra mais conhecida, já foi montada exaustivamente por grupos de todo o país, além de ter sido adaptada para a televisão e para o cinema.
Ocupante da 32ª Cadeira da Academia Brasileira das Letras, com a frase "Arte pra mim não é produto de mercado. Podem me chamar de romântico. Arte pra mim é missão, vocação e festa." Traduz sua trajetória nesta vida.
Noturno
Têm para mim Chamados de outro mundo
as Noites perigosas e queimadas,
quando a Lua aparece mais vermelha
São turvos sonhos, Mágoas proibidas,
são Ouropéis antigos e fantasmas
que, nesse Mundo vivo e mais ardente
consumam tudo o que desejo Aqui.
Será que mais Alguém vê e escuta?
Sinto o roçar das asas Amarelas
e escuto essas Canções encantatórias
que tento, em vão, de mim desapossar.
Diluídos na velha Luz da lua,
a Quem dirigem seus terríveis cantos?
Pressinto um murmuroso esvoejar:
passaram-me por cima da cabeça
e, como um Halo escuso, te envolveram.
Eis-te no fogo, como um Fruto ardente,
a ventania me agitando em torno
esse cheiro que sai de teus cabelos.
Que vale a natureza sem teus Olhos,
ó Aquela por quem meu Sangue pulsa?
Da terra sai um cheiro bom de vida
e nossos pés a Ela estão ligados.
Deixa que teu cabelo, solto ao vento,
abrase fundamente as minhas mão...
Mas, não: a luz Escura inda te envolve,
o vento encrespa as Águas dos dois rios
e continua a ronda, o Som do fogo.
Ó meu amor, por que te ligo à Morte?
Ariano Suassuna