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sexta-feira, 18 de junho de 2010

ADEUS SARAMAGO

Morre aos 87 anos o escritor Portugues José Saramago.
Considerado o escritor contemporâneo mais universal
da literatura portuguesa,
suas palavras dizem mais que qualquer coisa
que se possa dizer agora.




"Dificílimo acto é o de escrever, responsabilidade das maiores.(…) Basta pensar no extenuante trabalho que será dispor por ordem temporal os acontecimentos, primeiro este, depois aquele, ou, se tal mais convém às necessidades do efeito, o sucesso de hoje posto antes do episódio de ontem, e outras não menos arriscadas acrobacias(…)"
A Jangada de Pedra- 1986




Poema à boca fechada




Não direi:


Que o silêncio me sufoca e amordaça.


Calado estou, calado ficarei,


Pois que a língua que falo é de outra raça.




Palavras consumidas se acumulam,


Se represam, cisterna de águas mortas,


Ácidas mágoas em limos transformadas,


Vaza de fundo em que há raízes tortas.




Não direi:


Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,


Palavras que não digam quanto sei


Neste retiro em que me não conhecem.




Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,


Nem só animais bóiam, mortos, medos,


Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam


No negro poço de onde sobem dedos.




Só direi,


Crispadamente recolhido e mudo,


Que quem se cala quando me calei


Não poderá morrer sem dizer tudo.

Um comentário:

  1. Aninha,
    nosso ermitão vai gostar desta: o imortal escritor não admitia que lhe chamassem de José, nem de simplesmente Saramago. Exigia nome e sobrenome completos: "Me chame sempre de José Saramago, por favor!", disse a um documentarista brasileiro.
    E adorei que os parentes de José Saramago tenham dado um severo pito numa sujeitinha aí que foi no velório dele fazer campanha eleitoral, como se fosse um homem qualquer subindo na mesa de um bar fazendo discurso pra vereador.

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